TRANSFORMAR OU TRANSFORMA-SE?
No
que se refere à cultura, a conversão da visão de certo e errado se mostra ainda
mais complexo e de difícil evolução. Como transformar a visão de um povo que
aprendeu e reuniu durante toda sua vida um conjunto de conceitos, hábitos e
crenças? Como não criar nenhuma reação negativa deste povo, ao tentar mudar as
percepções e conhecimentos locais?
Respostas
difíceis de obter. É claro que a diferença cultural ao mesmo instante nos leva
a uma riqueza e diversidade de conhecimento como também possa se tornar uma
fonte de ações que distanciem ainda mais o ser humano da universalização dos
direitos humanos. Principalmente no que se refere ao limite da liberdade da
manifestação religiosa e crenças sobre a liberdade de escolha de um indivíduo.
A
questão da mutilação genital feminina nos leva a refletir sobre o papel da
mulher na sociedade e qual o poder que ela tem sobre o seu próprio corpo em
diversas partes do mundo. O poder do Não, neste ritual, é sem relevância. A
escolha não é da mulher, ou melhor, da criança ou adolescente, e sim se
fundamenta em crenças locais e em nome da religião.
Que
doutrina religiosa proclama que um ser deva sofrer um ato de mutilar o seu
genital? Não existe nenhuma escritura que prove esse argumento estabelecido em
muitos países.
Talvez
essa não seja a justificativa que caiba nessa discussão, e sim o controle e
repressão sexual vivenciado por essas mulheres, que tratadas como um objeto
reprodutivo, são marcadas, fisicamente e psicologicamente, em cada segundo de
seus dias. Assim, seu poder politico e econômico está estabelecido por meio de
repressão e ordem, ou seja, submissão.
Mutilar
um órgão sadio em detrimento de crenças e hábitos é cada vez mais questionado.
Muitas jovens fogem de seu país para não terem que passar por esse
procedimento, que além de trazer danos mentais pode causar uma série de
complicações físicas, como hemorragias, infecções até o comprometimento de
estruturas próximas a genital feminina entre muitos outros danos.
Submeterem
a essas crianças e adolescentes a essa regra enraizada em sociedade é
totalmente contrário ao ponto de vista ético, pois todo profissional deve
respeitar e apenas tomar qualquer decisão referente ao paciente com o
consentimento do mesmo ou de seu responsável legal.
Com
base no Código de Ética do profissional da saúde, nada que prejudica a saúde
publica pode ser realizado; informação que e também encontrada no capitulo V.
do Código de Ética do Biomédico, em que se refere a relações com a
coletividade.
Portanto,
não será um processo evolutivo fácil. Mesmo que leis proíbam o ritual de
mutilação genital feminina, é fundamental vincular a necessidade de por fim a
essa prática a percepções e conhecimentos locais, uma vez que a cultura é um
fator que exerce um grande poder na formação de conceitos, deveres e direitos
em sociedade. O biomédico como promotor da saúde, deve participar de
forma ativa dessa mudança cultural, por meio da conscientização.
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